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Quer morar no exterior? Veja como se planejar para o sonho não virar pesadelo

Sem conhecer o custo de vida e a realidade financeira no novo país de residência, e com mais dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, mais brasileiros não estão conseguindo se manter no local escolhido

O índice de brasileiros que deixaram o País e não retornaram em 2021 foi o maior nos últimos 11 anos, segundo levantamento da Polícia Federal. Em 2021, 17% dos moradores saíram do Brasil e não voltaram. Em 2010, quando o levantamento começou a ser feito, o índice foi de 7% e em 2019, de 5%. Mas a quantidade de vezes em que o sonho de migrar vira pesadelo tem aumentado e a falta de planejamento financeiro está entre as principais razões.


A constatação é do Programa de Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração da OIM (Organização Internacional das Migrações). Segundo a entidade, sem conhecer devidamente o custo de vida e a realidade financeira no novo país de residência, e com mais dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, mais gente não está conseguindo se manter no local escolhido. E em alguns casos, passa a enfrentar a falta de dinheiro até para voltar ao Brasil. Uma parcela expressiva desse retrato vem de Portugal, onde os brasileiros são a maior comunidade estrangeira, com quase 250 mil pessoas. Em 2022, o número de brasileiros em Portugal que pediram ajuda para voltar foi de 1.051 o que significa que os pedidos quase quadruplicaram em comparação com 2021, quando foram 288 casos. Todos os meses, cerca de 80 pessoas ingressaram no programa da OIM. Cerca de 53% dos que pedem esse tipo de ajuda são mulheres. De todos os que procuram apoio, 92% são brasileiros em situação de extrema vulnerabilidade. Do total de pedidos, apenas 394 retornaram ao Brasil com a ajuda do dispositivo. "Embora tenha despesas consideradas baratas para o padrão europeu, Portugal ainda é um país mais caro de se viver do que no Brasil. Por essa razão, as empresas especializadas em mobilidade internacional precisam oferecer um bom aconselhamento e mostrar que, desde que planejada, a mudança tem tudo para ser um ótimo negócio", aponta Marta Mitico, sócia-fundadora da BR-Visa e presidente da Abemmi (Associação Brasileira de Especialistas em Migração e Mobilidade Internacional).


Como montar um planejamento financeiro eficiente para morar no exterior?

Real X Dólar X Euro

Um dos primeiros fatores para se atentar é a posição do real em relação a outras moedas estrangeiras fortes, como o euro e o dólar, alerta a especialista.

No acumulado de 2022, a divisa americana registrou queda de 5,32% contra a brasileira, o que coloca a performance do real entre as mais positivas frente ao dólar no ano, dentre as principais divisas acompanhadas pelo Valor.

A apreciação do real, se deu, principalmente por causa do nível elevado dos juros no Brasil. Ainda assim, o ambiente global aponta para o dólar forte. A expectativa para o dólar no fim de 2023 foi mantida em R$ 5,25 no último Relatório Focus, do Banco Central (BC) — divulgado todas as segundas-feiras. Para 2024, a mediana das estimativas para a moeda norte-americana teve um leve ajuste para baixo, de R$ 5,30 para R$ 5,29 entre uma semana e outra. Para 2025, permaneceu em R$ 5,30.

Buscar entender essa dinâmica é importante para que o processo de desvalorização das reservas não comece a consumir o poder de compra antes mesmo da própria partida, diz Marta Mítico.


Inflação

Ainda nessa conta, precisa ser incluída a taxa de inflação no país de destino. Países que atraem muitos brasileiros, como Estados Unidos - principal destino dos brasileiros - e Portugal, têm enfrentado problemas nesse sentido. Nos EUA, a inflação fechou 2022 em 6,5%, confirmando um processo de desaceleração, mas ainda pesando sobre a população. No primeiro trimstre, a inflação por lá esteve próximo do maior patamar em 40 anos, o pior nível desde o choque do petróleo no fim dos anos 1970.

a taxa geral da inflação em Portugal foi de 7,8%, um disparo significativo face aos 1,3% de 2021. Desde 1992 não havia uma variação anual da inflação tão elevada, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Para além dos dados oficiais, vale pesquisar a percepção de quem já está vivendo no local pretendido. A InterNations, uma comunidade on-line que conecta 4,7 milhões de pessoas que vivem fora de seu país de origem, reúne informações variadas e traz pesquisas que podem ser úteis na tomada de decisão. Uma delas, por exemplo, mostra que a Nova Zelândia é o segundo pior país do mundo para um estrangeiro morar, ficando atrás apenas do Kuwait. As dificuldades com as finanças pessoais no país de paisagens exuberantes são piores do que em qualquer outro lugar do mundo e cerca de 30% dos estrangeiros que moram no país enxergam sua situação econômica de maneira negativa — este número é de, em média, 21%.


Aluguel

Outro ponto importante é o preço dos imóveis e aluguéis.

Para exemplificar o tamanho do desembolso, a Xplore Group calculou os custos básicos mensais nas três cidades mais procuradas para residência nos EUA, tomando por base o mês de dezembro, período em que a consultoria registra demanda de engenheiros, empresários, investidores e profissionais liberais que se preparam para mudar devido ao encerramento do ano letivo das escolas.

Num cenário em que os adultos tenham entre 35 a 50 anos, com pelo menos ensino superior completo, e, em média, dois dependentes e que escolham migrar para Miami, esta família gastará de aluguel cerca de US$ 4.600 para uma casa com três quartos e outros US$ 156 com luz e eletricidade por mês.

Em Nova York, o aluguel não sai por menos de US$ 7.150 e as taxas de luz e água giram em torno de US$ 180. Já em Austin, no Texas, a locação de um imóvel com as mesmas características exigem desembolso de cerca de US$ 4.100 e outros US$ 161 para luz e água.


É claro que existem diferentes padrões de casas e a localização também conta no preço do aluguel. Por essa razão, a BR-Visa recomenda o uso do site https://www.numbeo.com/cost-of-living/ para ver as diferenças de preços entre diferentes países e cidades para saber qual será o custo de vida que a família terá de arcar no país desejado.

"Principalmente para os primeiros meses deve-se levar em conta uma projeção de gastos em média de serviços indispensáveis como alimentação, eletricidade, aquecimento, calefação, água e lixo, por exemplo. Isso sem incluir outros gastos com internet, locomoção e bens móveis", orienta Mítico.

Por outro lado, ela lembra que países com uma boa rede de serviços públicos podem gerar economias importantes, como educação e saúde gratuita e poucos gastos com transporte público.


Escolha consciente

As razões para buscar um novo país são distintas: realizar um sonho, viver novas oportunidades e, até, desencanto com o Brasil são algumas delas. Independente da motivação, a partida para o novo país deve se basear em uma escolha consciente para o projeto não naufragar, segundo Andreas Reinisch Perdicaris.


O diretor da Xplore Group diz que houve uma aceleração da busca por serviço de requisição por visto americano nas três semanas seguintes ao término das eleições presidenciais. "A busca por um novo lar em outro país não deve ser considerada apenas por motivos políticos. Outros fatores críticos precisam ser considerados antes de fazer uma escolha de mudança de vida. Em muitas ocasiões, as pessoas correm riscos quando estão emocionalmente envolvidas que comprometem seus objetivos de imigração", comenta.


Também não se pode esquecer as despesas geradas pela partida do Brasil. Não é só o preço das passagens, mas também o encerramento de serviços por aqui, pagamento de eventuais contas e dívidas e, claro, a despesa para toda documentação necessária na mudança, que varia de acordo com o destino.


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